quinta-feira, 23 de abril de 2020

Pandemia

Tudo ficou longe demais
Tudo o que nos define ficou de repente indefinido
Tudo o que somos paira nesta incerteza interminável... 
Já não há esperança no "vai ficar tudo bem"
Falta-nos o melhor de nós, 
Os olhos nos olhos
Que falam mais do que mil palavras
Mesmo no silêncio...
E falta-nos também o silêncio
que junto dos nossos é apaziguador... 
Já não há pensamento positivo que nos apare
Esta queda livre de emoções... 
O horizonte global é de de dor... 
De repente somos todos uma ilha
E nenhum homem é uma ilha... 
As pontes ficaram vazias
As estradas ficaram por percorrer
E quantos abraços por dar
E quantos sorrisos se perderam
E quantos beijos se calaram... 
Não, não está tudo bem
Está tudo em suspenso
Num limbo esgotante
E bola para a frente
Em dias cada vez mais iguais... 
Em horas cada vez mais intermináveis... 
E o tempo passa 
Passa por nós 
Sem se importar
E fica em cada um de nós
Esta inquietação
Esta vontade de gritar
De uma espera que desespera
De um começo sem fim à vista... 

O mundo globalizado
Tecnológico 
Digital
À distância de um clique
Não me serve
Não me traz 
Os fins de tarde 
regadas a gargalhadas
No regaço dos amigos... 
Não, não me serve
Esta saudade imensa
Este aperto que sinto a toda a hora
Quando penso que a distância 
Teima em não acabar
E me tira o aconchego 
Que havia no ir e voltar... 
Não, não me serve
Esta dor que trago no peito 
Desfeito 
Pela lonjura
Que já queima
E me transfigura... 

CFV









Aperto

Do nada E em tudo Sentes o fim de um tempo E o futuro no presente... O que virá? Quando e como será? Fica ali aquele nó na garganta Um burbu...