Nos últimos dias a vida deu uma reviravolta!...
De repente, eu e muitos como eu, ficámos sem chão...puxaram-nos o tapete com tanta maldade que não houve tempo para nos segurarmos! Caímos de cara, sim... tombámos, quebrámos alguns ossos e numa primeira reação, os sonhos pareciam desfeitos...
Muitos de nós saímos há algum tempo das nossas terras! Viemos para esta Ilha, com malas cheias de curiosidade feitas de certezas...afinal estávamos a construir o nosso futuro, de gente adulta que corre pelo que pode parecer tão básico, o trabalho, pelo qual estudámos e sonhámos! Éramos professores nesta terra que passou a ser nossa também, por muitos motivos!
Eu, particularmente, já vivi diversos sentimentos nesta Pérola do Oceano Atlântico...
No início não me dei a conhecer nem quis ganhar grandes raízes por cá... porque sei o quanto é difícil uma despedida, sei o que dói um até já, quanto mais um adeus...
Mas de nada me valeu... ganhei, não só raízes e GRANDES, GRANDES amizades, como muito AMOR à terra que tão bem me acolheu!
Assim, sem me dar conta, tornei-me uma Continental Madeirense e senti-me gente da terra porque esta terra se entranhou em mim...
A cada vinda de férias, custava fazer malas e deixar os amigos e família do lado de lá, para trás, longe, envoltos em mais uns meses de separação e saudade...
Mas ultimamente, devo confessar que a vontade de regressar falava alto, a saudade deste mar era uma realidade cada vez mais presente!
Voltei, cheia de alegria e mal pus o pé nesta Ilha, a sensação de ter chegado a casa percorria-me como sangue que fervilha pelas veias, como batida que, essa sim, fazia bater o meu coração e me dava vida...e que boa foi essa emoção!
Agora, por cá, na CASA que me adotou, depois desta reviravolta que a vida nos proporcionou, naqueles instantes em que páro e dou por mim nos lugares de sempre...mas agora numa angústia que me embrulha o estômago...
Sigo os caminhos que se tornaram meus conhecidos, as mesmas paisagens...sempre deslumbrantes...,mas agora de olhar turvado porque do nada, cai uma lágrima enrolada..
E de coração apertado assalta-me um pensamento devastador: esta terra que se tornou a minha casa pode se tornar mais um percurso do passado... mais uma saudade, mais uma despedida e mais uma dor!...
Nos cafés de sempre, sento-me com amigos, uns velhos, outros novos, uns já são família e outros conhecidos, sei que ali mesmo já fui mulher de sorriso seguro e realizada ... mas agora há, esta incerteza dura que me balança por dentro, desde as entranhas ao âmago da alma que perdeu a calma!
Onde já sorri de peito aberto, dou por mim de cara fechada... e na garganta aparece um nó de medo que muito tem apaziguado com a ajuda destes novos amigos, companheiros na caminhada da vida e de mais uma luta...
E assim, sem estar sozinha corre e teço este fiozinho de esperança que, baixinho, vai crescendo... e só assim, no fim do dia, quando regresso a casa, ainda de caixas por abrir, com a sensação de missão cumprida, não me sinto tão perdida...
E devagarinho, até consigo ver o chão, aquele que, de rompante, alguém fez desaparecer...
E agora, a altas horas, já consigo adormecer, porque nem o cansaço me vencia, tanto era o medo que sentia...já fecho os olhos e fica comigo um sentimento que paira cada vez mais real de que, apesar de tamanha injustiça, desta vez, a diferença e a verdade ganharão e que nada mais será igual!
CFV