sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Mãe

Mãe!
A voar para ti
E no fundo de min
Ouço um tiquetaque
Cada vez mais sonante...
Da janela vejo a maior ironia da vida:
Nuvens suspensas 
A fazer lembrar
Uma vida ida
Feita na doce certeza
E na reconfortante leveza
De que te ia encontrar!
Simples, assim, tu és o meu lar!
Olho-te dentro do que sou
Lá fora este sol límpido
A ironizar
O meu caminho 
De que sou construída
Desde sempre perdido
Apenas e sempre norteado por ti!
Agora, sou este intenso breu!
Uma ponte que encerrou!
Olho - te no horizonte
Vejo- te a cada raio de sol
Imensa como este céu
Que em tantos dias
Nos acalentou
Que em tantas manhãs
Nos esperançou!
São tantas as memórias e as estórias
Nossas!
São tantas as despedidas, 
Minhas!
É certo!
Mas sempre com a doce certeza da vinda
E dos teus abraços que foram sempre os meus braços!
Agora, são muitas as lágrimas
E esta dor maior do que consigo suportar
Mas serão sempre mais mil sóis
Ficarão sempre mil vezes mil 
Os teus sorrisos e os beijos
Que de ti, recebi
Todos com sabor a promessa,
De que para sempre foste, és e serás o meu regresso!
Hoje que sou asas
Que estou tão perto
Sinto-me queimar e gelar
a cada golfada de ar...
Penso em ti, egoisticamente
Peço,
agora, que estou mais perto do céu,
Ao teu Deus,
Que me leve a tempo até Ti...
Repito te, Mãe,
Exaustivamente, Mãe,
E só te posso imaginar
De sorriso aberto
Para te abraçar!
CFV

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Distância errada

Se soubesses,
como estás aqui tão perto
como não me sais da cabeça
nem nunca do meu coração...
se soubesses
o quanto soa
a facas espetadas
esta distância errada...
Será que sabes?
Era aí que queria estar
Era aí que queria dormir
lado a lado, 
todas as noites 
abraçadas num sono nosso,
transformado em dias, para sempre!

Tudo o que visto parece demasiado apertado
a respiração é um sobressalto constante
o medo vai crescendo
como muros cada vez mais altos!

Ao fundo ouço palavras bem intencionadas 
só que soam barulhentas
e há momentos que são arame farpado
e só quero fugir para o meu canto escuro
encontrar- me com o silêncio
para poder soluçar 
num lamento desconcertante...

Tudo à minha volta 
é espuma que se desfaz
nada mais importa
a não ser este tempo
que entoa
um tic tac doloroso
um tic tac raivoso...

Nada me acalenta,
o tempo, 
não sei,
se é suficiente
ou se é inebriante
tudo me despedaça
e as palavras são vento
que cortam e secam
as mãos e os lábios 
gretados
enxangues
desta ferida aberta
que nunca mais sara
que nunca mais para...


Eu sei,
não sou nada
não posso nada
e que me veste esta roupa apertada
que me sufoca 
impotente
e, decadente
habita em mim toda a raiva
possível e imaginária
e outras mil revoltas
dirigidas a este
e a outros mundos
e a Deus
e aos deuses
de todas as cores e crenças:
NÃO, não aceito,
NÃO, não quero,
NÃO, não aguento!
Pois que, só assim me mantenho de pé
e sorrio para que o mundo fique aliviado
mas no meu
não há mais nada
e, volta meia volta,
volta esta escuridão pesada! 

CFV

domingo, 6 de janeiro de 2019

Asas

Vamos nesta viagem
Sobre as rodas do costume
Mas dentro de mim
Sao mil e uma,
As asas
Presas
Feridas
Que nunca mais saram
Que anseiam voar
Para bem perto de ti
Para bem perto de vós...
Esvoaçam em mim
Mil e um pensamentos
E numa só voz
Todos te encontram
Todos nos abraçam
Como se mais nada existisse
Como se as nossas almas se fundissem!
Vamos nesta viagem
Mais uma das mil e uma percorridas
Mas como esta
Nunca nenhuma foi tão sentida...
Deixo -vos partida
Levo-vos comigo
Numa nova saudade
E junto-a a esta impotência
Que me veste
E à única vontade
Que me resiste
Uma volta definida!
Vou nesta estrada
Tantas vezes percorrida
Levo-vos comigo
Neste meu olhar perdido
Num desespero infinito
Que teimosamente
Transformo em prece...
Todo e qualquer gesto
É a Deus e aos deuses
Que peço
E a quem mais houver
Neste e noutros mundos,
Que vos pare no tempo
Até ao meu regresso!
CFV

Aperto

Do nada E em tudo Sentes o fim de um tempo E o futuro no presente... O que virá? Quando e como será? Fica ali aquele nó na garganta Um burbu...