segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Distância errada

Se soubesses,
como estás aqui tão perto
como não me sais da cabeça
nem nunca do meu coração...
se soubesses
o quanto soa
a facas espetadas
esta distância errada...
Será que sabes?
Era aí que queria estar
Era aí que queria dormir
lado a lado, 
todas as noites 
abraçadas num sono nosso,
transformado em dias, para sempre!

Tudo o que visto parece demasiado apertado
a respiração é um sobressalto constante
o medo vai crescendo
como muros cada vez mais altos!

Ao fundo ouço palavras bem intencionadas 
só que soam barulhentas
e há momentos que são arame farpado
e só quero fugir para o meu canto escuro
encontrar- me com o silêncio
para poder soluçar 
num lamento desconcertante...

Tudo à minha volta 
é espuma que se desfaz
nada mais importa
a não ser este tempo
que entoa
um tic tac doloroso
um tic tac raivoso...

Nada me acalenta,
o tempo, 
não sei,
se é suficiente
ou se é inebriante
tudo me despedaça
e as palavras são vento
que cortam e secam
as mãos e os lábios 
gretados
enxangues
desta ferida aberta
que nunca mais sara
que nunca mais para...


Eu sei,
não sou nada
não posso nada
e que me veste esta roupa apertada
que me sufoca 
impotente
e, decadente
habita em mim toda a raiva
possível e imaginária
e outras mil revoltas
dirigidas a este
e a outros mundos
e a Deus
e aos deuses
de todas as cores e crenças:
NÃO, não aceito,
NÃO, não quero,
NÃO, não aguento!
Pois que, só assim me mantenho de pé
e sorrio para que o mundo fique aliviado
mas no meu
não há mais nada
e, volta meia volta,
volta esta escuridão pesada! 

CFV

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