Em mais um aniversário, é quase impossível não se olhar para trás!
É mais um ano festejado nesta Madeira que se aprende, naturalmente, a gostar, uma segunda casa que se adota e que nos acolhe... e em momentos em que achamos que a odiamos...na verdade é a só a distância que, se torna, por vezes, intransponível! Torna-se, assim, uma relação amor-ódio: querer sair daqui, abraçar a saudade para, quem sabe, a diminuir e, uma vez lá, é inevitável a vontade de regressar!
E é assim, que se vive cada vez mais partida, dividida!...
Quase a virar a página de mais um ano de vida!... já custa dizer, escrever, pensar neste novo número!
Não é o número em si que assusta e dói...é a pouca estabilidade, as tão poucas certezas e ainda que se tenha realizado muito, será que realizámos o suficiente? Uma questão que vai assaltando e faz-nos saltar deste limbo que se tornou a vida profissional que nunca, nunca, ajuda o lado pessoal, que sempre se refugiou em qualquer razão para, talvez, não avançar...será?
Estar sozinha porque nada aconteceu para não se estar...simplesmente foi acontecendo a vida, que nunca parou nem se comoveu com o que não deu certo ou se importou com o que ficou por dizer... tanta era a pressa de chegar a qualquer lugar!
Pelo meio, caminhos que se cruzaram, dedos que se procuraram mas que nunca se entrelaçaram, nós no estômago de fazer sonhar e querer ficar e ainda olhares que se demoraram, é certo... almas únicas... mas sedentas de coisas diferentes. É guardá-las com carinho, como fazendo parte deste caminho!...
E se nenhuma prendeu o suficiente para se querer abdicar da liberdade, se nunca foi assim tão incondicional, não tem de haver o peso da culpa de se achar que de alguma forma se construiu essa solitude!
No fim deste capítulo há esta nova sensação que, não se sabe explicar mas que, paira como um cheiro inebriante e entra por nós adentro e faz questionar, mesmo sem querer: o que terá acontecido àquele romance de arrebatar, pelo menos, o suficiente para se ser livre ao lado de alguém que acolha exatamente como se é, com tudo o que se é?!
A findar este capítulo já haverá muitas páginas vividas e aproxima-se sem dó nem piedade mais um de luta interior e em, simultâneo, o tentar viver em pleno para calar tantas questões que cercam cada vez mais!
A resposta, essa, ainda não chegou, porque nunca chega...é que a vida ensina acontecendo!
Mas tenho para mim que, também é isso, talvez tenha sempre sido isso... valores, princípios e verdades que muito se prezam, que definem, são demasiado importantes e, depois, o reconhecimento do outro, o outro que não partilha essas tais linhas definidoras, pilares e traços da personalidade... e essa falta no outro traz a inevitável desilusão, o desinteresse e, a fé esfuma-se pelo ar, até desaparecer...uma e outra vez!
É um déja vu que se repete cada vez mais! E ainda assim, não poderemos querer menos do que o sermos arrebatadas... ainda que a vida vivida, que vai ficando para trás, nos vá retirando a capacidade de acreditar e de ver através do sonho...
E é aí que, a luta deve ser a busca de algo que nos devolva sempre essa capacidade de sonhar!
Eu tento com todas as forças não perder essa ponte que sempre tive com a energia marcante da adolescência; poder olhar para os meus alunos, dá-me uma imensa alegria por ainda entender o tanto que eles sentem, os olhares carregados de sonhos e ver na sua forma de estar, pura, a utopia de poderem mudar o mundo!
Tento lhes dizer que é maravilhoso o que eles estão a viver, que devem sentir muito e absorver tudo e nunca se devem esquecer da sua energia, ainda que seja exacerbada, ela é necessária para construírem o seu futuro e se tornarem adultos sonhadores..tento mesmo!
Às vezes penso que o faço porque eles poderão fazer muito mais do que eu, que já lá estive e não posso mais voltar...e ainda que haja em mim esta garra de me manter fiel ao coração, sei que, lentamente, me torno uma adulta e que, corro riscos de deixar morrer essa utopia que me guia, que os guia! ~
No fundo quero ser uma eterna miúda! E todos devíamos querer o mesmo!
E se por um lado gostava de ter mais, por outro gosto de pensar que o tempo é o que quisermos fazer dele e nele quero, ainda, dar muitas voltas, voar em voos distantes e picados e voltar sempre para onde quiser recomeçar!
CFV