quarta-feira, 9 de setembro de 2015

(Des)Humanidades

De dentro de mim
sai por aí
este monstro que me habita...

Cresce e grita
a cada palavra cruel
desdita com sabor a fel...

Dobra-me em esquinas
com a força de quem desatina!!

Desdobra-se a cada lágrima
que vai virando oceano de dor
e  ali fica num ondular,
a fazer crescer o monstro que
não pára de gritar!

Leva o que resta de mim
por essas ruas sem fé!!

Abraça-me prisioneira
por esse mundo
despido de alma
e devolve-me ao escuro...

Talvez para que eu não o possa ver!!!

Dentro de mim
sou mil
e a cada anoitecer
habita-me este monstro
desumano e perdido
que cresce e grita
num escuro sem fim!

CFV

sábado, 5 de setembro de 2015

A vida num pé coxinho

Reconheço cada vez menos
a sociedade que vejo
quero, cada vez mais, ser invisível
e fugir a tudo o que me vê!

Percebo cada dia menos,
o mundo que me rodeia
e fico enjoada
de tantos rodopios...

Saturada desta roda viva
que me corrói
numa morte lenta...

Todos me veem
todos me acham
como um livro aberto...

Mas que sabes tu
se nem eu me sei?
Mas que me achas tu
se nunca me encontrei?

As certezas dos outros
são os meus ceticismos...
olham-me e falam-me
como se a vida de todos
fosse uma linha reta
com o mesmo peso e medida
em que é já ali a saída...

Mas que sabem os outros
das escuridões que me cercam
das pedras que me tropeçam
ou dos mil silêncios
que, do nada, me assaltam
sem que a curva o pudesse prever?

Que sabem eles
do que é viver,
assim,
nesta incerteza
do próximo passo?
Se já neste,
a perna quase cedeu,
porque o cansaço tremeu
numas pernas bambas
do medo que cresceu
por cima do sonho...

E só,
vejo-me tantas e tantas vezes,
no meio do nada
num caminho de areias movediças
que me prendem a cada tentativa
de perceber e ver o que os outros
tão certos, me querem fazer crer...

Só que não!
Mas nada!
Mantém-te calado!

A tua medida
não é nem nunca será a minha...

Que eu fui feita
em noite de vendaval,
quando nasci
fiquei aí
perdida,
espalhada
em pedaços feitos de lua
cresci, imprevisível
num vai e vem
de sabor a maré
ora vazia, ora cheia...

A minha vida é assim,
ora caminha, ora corre,
ora brinca ao pé coxinho
numa infância perdida
que tropeça
numa linha
que, jamais, será reta
mas, sempre,
imprecisa até ao fim...
e só no fim
é que me tornarei visível
na alma de quem me quis,
mais do que ver, ler!


CFV











terça-feira, 1 de setembro de 2015

Dia nacional do Professor contratado DESEMPREGADO!





Os posts repetem-se com mensagens de esperança para este mês de setembro que agora começa...
No entanto, o coração de milhares estão hoje apertadinhos...a fé é diminuta e o sentimento de revolta está empregnado no ar...como suor que te faz sentir o corpo a colar!

Ser professor contratado é isto, a cada 1 de setembro... é só o dia mais negro de todos... e apesar do movimento repetido, engane-se quem pensa que há habituação ou que se passa por isto com uma leveza costumeira... não!
Dói sempre mais! A falta de respeito por esta classe tornou-se viral, comum e aceite e, infelizmente, muitas vezes começa de dentro para fora!

Este dia traz sempre à memória, a precariedade e instabilidade de milhares que, como eu, escolheram ser professores, porque, como eu, é na sala de aula que nos realizamos! (Às vezes até parece crime dizer que somos apaixonados pelo ensino... dizemos cada vez mais a medo...como se fosse blasfémia...)
Este dia cai-nos em cima e traz-nos para uma realidade cortante de um sistema que precisa de nós mas que nos descarta sem dó nem piedade, ao som do dinheiro que tilinta nos bolsos cheios destes políticos que fazem uma carreira apenas, a dos interesses/lobbies!

Foi, sim, uma escolha minha, mas não escolhi ano após ano ganhar mais instabilidade, ficar cada vez menos segura do futuro que me espera ao sabor de quem corta e poupa para pagar campanhas políticas, bancos falidos e buracos ditos de uma crise, que me parece cada vez mais oportunista e oportuna para uns quantos!

Foi, sim, uma escolha minha que me levou a largar tudo à procura do sonho a 1000 km de distância, numa ilha que me entranhou e que eu entranhei, da qual baterão para sempre as saudades...
Mas a saudade tornou-se realmente a única constância na minha vida! Longe da família e dos amigos e a viver das memórias que me viram crescer e que, em tantas solidões me afogaram em mares longínquos que simplesmente não consegui vencer... E foi, sim uma escolha, minha, que fiz sem arrependimentos!
Já o que veio com ela é que soa a ofensivo!
Ano após ano, o sistema precisa de mim, só que não é a 1 de setembro... é quando for!
Aguenta coração, que a tua vez há-de chegar e aí, ainda és obrigado a sentires-te abençoado!

Setembro, podes muito bem ser riscado do ano letivo, ouviste? Não fazes cá falta nenhuma, sabes?
Só cá estás para seres uma voz dentro de cada um de nós, reles contratados, a lembrar-nos dos medos de ano após ano, por ti multiplicados...

CFV

Aperto

Do nada E em tudo Sentes o fim de um tempo E o futuro no presente... O que virá? Quando e como será? Fica ali aquele nó na garganta Um burbu...