a sociedade que vejoquero, cada vez mais, ser invisível
e fugir a tudo o que me vê!
Percebo cada dia menos,
o mundo que me rodeia
e fico enjoada
de tantos rodopios...
Saturada desta roda viva
que me corrói
numa morte lenta...
Todos me veem
todos me acham
como um livro aberto...
Mas que sabes tu
se nem eu me sei?
Mas que me achas tu
se nunca me encontrei?
As certezas dos outros
são os meus ceticismos...
olham-me e falam-me
como se a vida de todos
fosse uma linha reta
com o mesmo peso e medida
em que é já ali a saída...
Mas que sabem os outros
das escuridões que me cercam
das pedras que me tropeçam
ou dos mil silêncios
que, do nada, me assaltam
sem que a curva o pudesse prever?
Que sabem eles
do que é viver,
assim,
nesta incerteza
do próximo passo?
Se já neste,
a perna quase cedeu,
porque o cansaço tremeu
numas pernas bambas
do medo que cresceu
por cima do sonho...
E só,
vejo-me tantas e tantas vezes,
no meio do nada
num caminho de areias movediças
que me prendem a cada tentativa
de perceber e ver o que os outros
tão certos, me querem fazer crer...
Só que não!
Mas nada!
Mantém-te calado!
A tua medida
não é nem nunca será a minha...
Que eu fui feita
em noite de vendaval,
quando nasci
fiquei aí
perdida,
espalhada
em pedaços feitos de lua
cresci, imprevisível
num vai e vem
de sabor a maré
ora vazia, ora cheia...
A minha vida é assim,
ora caminha, ora corre,
ora brinca ao pé coxinho
numa infância perdida
que tropeça
numa linha
que, jamais, será reta
mas, sempre,
imprecisa até ao fim...
e só no fim
é que me tornarei visível
na alma de quem me quis,
mais do que ver, ler!
CFV
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