quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Oração

Penso penso penso
Como quem reza
E só tu cabes
no meu pensamento
Só tu cabes
No que sou...
Como?
Porquê?
A ti?
Não há fé que justifique
Clamo num desespero mas
Não há razão
que acalme o coração
Nem sentidos que não chorem as tuas,
As nossas lágrimas,
Não há senso comum que faça sentido
E não há momento em que não me revolte!!!
A ti?
Que me és tudo!
Que te preciso!
Que mundo resta se só te houver em silêncio?
Que mundo é este se não te puder ouvir?
A ti?
Que foste
O Tudo
O Muito
E O Tanto...
Que o tanto és
Como o quanto podes dar...
Não há sentido
Como não pode haver terra
Sem mar ou serra
Sem norte ou sul...
E se o mundo não te puder ouvir,
Berro eu como animal ferido
Num clichê do tamanho do mundo
O "Ai de mim"
E o "Ai do mundo",
Se nao estiverem mais presentes
As tuas palavras,
De sossego
De conselho
De aconchego
De cabeça descansada no regaço
(o teu que é único e meu)
De abraço cheio e sorridente
(Sempre capaz de me encher o vazio constante,
Sempre capaz de quebrar a distância na simplicidade do teu riso quente!)
Aí! Que soaria o mundo
Sem esse teu dom
Da palavra cheia
E de uma força
Incalculável?
Se de mim te calarem,
Ai de mim
Se não for eu, para sempre, a tua voz
Se não te levar comigo a cada luta
No regaço que foi o teu, nosso e agora meu!
Porque desde sempre e para sempre que sou tua...
Daqui até à lua, só tu cabes no que sou!
CFV

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Entre o sorriso e a tristeza

E é tão difícil sentir este Medo
Que é meu
Que é teu
Que é nosso
Todo num só...
É um Monstro que assusta baixinho
E que grita no silêncio de hora a hora
Noite fora
E de madrugada
Acorda de sobressalto
Num susto sem fim...
Morde aqui e ali
Sem deixar esquecer
Esta dor gélida que
Abocanha sem piedade
A esperança
A espreitar
A lembrar que
Sem ti,
Só há escuro
Sem nós,
não há memória
Nem sei o que perdura...
Sem ti,
não existo
Sem nós,
Nada importa
Não há saída
Só procura
Pela porta
Que te encontre
Que nos encontre
do lado de cá
No nosso abraço
Eu e tu e o teu regaço...

A rotina quer- se a de sempre
Mas o vazio
É um poço sem fim
É água parada que aumenta
E eu cada vez mais submersa...

Olho- te de olhos impotentes
Murmuro súplicas
E tudo o que me apetece fazer
É agarrar te sem nunca te perder
Porque talvez assim
Nada te arranque de ao pé de mim e...
Num abraço sem fim
quem sabe te curasse
E te fizesse ficar para sempre
Eu e tu e o teu regaço...

E seguem as voltas do costume
Na tentativa de dar sentido
Às mil e uma dúvidas que cercam mas... 
Aos poucos vence este Medo
Aos poucos este Monstro cresce
E dentro do que me resta
Grito num grito mudo
Este desespero que me quebra
Fecho os olhos numa fé tamanha
Choro como quem reza
Faço figas e numa prece
Nunca desejei tanto o fim de um pesadelo!

Que eu não me sei sem ti!
Que sem ti, que será de nós?
Que sem nós a minha alma desfalece...

Seguem os dias marejados de lágrimas
Que se misturam com sorrisos tristes
Numa tentativa de trazer à vida
Uma normalidade que não aparece...

CFV

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Ferida aberta

Instante que tarda em passar
tempo que tarda em ficar
sinto -te a escapar
entre os dedos
que nem areia
numa madrugada gélida
que nem vento
que corta a fio de navalha
sem metáforas ou eufemismos
num sarcasmo
cada vez mais real!

É uma espada afiada
Imagem relacionada
É faca aguçada
trespassa-me devagarinho
numa ironia doentia
e aos poucos
os pedaços de que sempre fui feita
são ferida aberta...

Fecho os olhos
num laivo de esperança
adormeço aos soluços
sonho e acordo
e o que vejo é um breu
e esta dor tamanha
que em mim restou
num para sempre incerto...

Abriu- se este poço
sem fundo
sem princípio ou fim
não há céu
quanto mais estrelas
não há tempo
e os instantes teimam em se alongar
nesta espera dolorida
sem cor
sem luz
sem ti!

Conto os dias
numa distância
nunca antes assim sentida...

Cruzo os dedos
numa fé nunca antes minha...

Procuro motivos
e encontram-me todos os deuses
que habitam este e outro mundo...

E fica
este escuro desespero...


CFV










Aperto

Do nada E em tudo Sentes o fim de um tempo E o futuro no presente... O que virá? Quando e como será? Fica ali aquele nó na garganta Um burbu...