terça-feira, 23 de junho de 2015

Encontra-te no desencontro

Há que sair da dura realidade
entrar no sonho
por nós inventado!

Deixar tudo fora de sitio
desarrumar o sol e a lua das nossas vidas
deixar que o dia vire noite
e a noite seja sempre de lua cheia!

Esquecer...
por minutos
por segundos.
não é o tempo que importa
somos nós
e o que fazemos dele!


Encontra-te no desencontro
vira-te do avesso
e vê o mundo de pernas para o ar
vais ver que te vais encontrar!

Esquece o amanhã
estarás cá?
Esquece o passado
poderás mudá-lo?

Constrói-te
no infinito
no horizonte longínquo
liberta-te das amarras
e prende-te ao inalcançável
tens o mundo nas mãos
despojado a teus pés,
é teu
e só assim poderás agarrar o céu!

CFV




quarta-feira, 17 de junho de 2015

Estar onde não estou

Deixa-me estar onde não estou!
Não, não estou cá!
Mas deixa-me lá
onde não estou...

Deixa-me esquecer
que não tenho asas
para, lá, poder voar
por distâncias irreais
e mundos impossíveis
que preciso tocar!

Deixa-me afogar
no que sou, mas lá,
onde posso nem sequer respirar
porque cá,
há este cansaço infinito
que não sai de mim,
inspiro mil vezes
e ainda assim
sinto-me morrer
a cada lufada de ar
que entra mas não sai
numa luta sem fim!

Deixa-me agora
que não posso estar cá,
quero o outro lado
que arde, arde
num lento derreter
desta alma moribunda,
onde há muito congelei...
É nesse calor
que quero ficar
onde ainda me sinto viva
sem esta coisa de cá
que me faz sentir perdida!

Um dia vou e não volto!
Nem eu nem ninguém me irá
arrancar de lá...
Para já, deixa-me estar
onde não estou!

CFV








domingo, 14 de junho de 2015

Portugal meu

Batem em mim
poetas da palavra à música
ouço-os a devorá-los
sinto-os com a urgência 
de quem ainda espera
quero -os em mim, entranhados
para poder entender 
e acalmar o que muito, muito 
e sempre, sempre sinto!

O meu corpo chora
por dentro e por fora
contorce-se de dor
daquela que nunca vai passar
porque o futuro é tempo 
que, neste país, nunca existiu!

Ficou algures pelo caminho,
amputado,
num tempo ido,
passado imperfeito,
daquele que nunca, nunca acaba, 
que era, era sem parar,
mas que nunca chegará a ser...
porque nunca foi
esse passado perfeito
que ali ficou, (exatamente onde tinha que ter ficado)
e nunca se avançou...
e a esperança a existir
não se vê, 
não se sente...
mas desespera-se
num país 
que insiste em sobreviver
num lusco fusco intenso
de gente escondida,
perdida no meio 
de trapaceiros 
que falam, falam palavras ao desbarato
como cassete gasta 
e ainda assim, acham eles, 
com a razão de entendidos
mas que, nada de nada, sabem
e é assim que vão matando, malditos,
a alma imensa de um povo!

Povo que deixa
povo que já esqueceu 
povo que já não sente
o valor de um arrepio
daquele que percorre a espinha
porque se luta
porque se acredita
porque, 
por mais duro,
por mais incerto
e por mais medo,
não se desiste mas insiste-se
no sonho que comanda a vida!

Ainda é povo 
que insiste, sim...
a deixar-se viver
à sombra de quem o quer devorar
e morre aos pedaços
num definhar pardacento
como dia de chuva parado
de trânsito "inquisinado"
de pressa para chegar a casa 
e ficar num dormitar quente
de dias sem sentido
só com o sentido do dia seguinte
do mês seguinte
que este já está tão curto...

A fé? Ahhhh, a fé!...
Essa só acorda em jogos de futebol
em subidas de divisão de clubes falidos
em trocas de treinadores/traidores
e ainda assim aguerridos e agarrados 
a esperanças vãs de falsa fé!

Vive-se assim neste morrer lento
onde já não há partilha
já não há sonho ou solução
porque deixamos
gente assim
vazia
desfasada
irreal
mandar neste portugal!

CFV




quinta-feira, 11 de junho de 2015

Pulso a pulso... viver





Sabes muito
sentes mais
e queres outro tanto!

Vives num limbo indefinido
aceitas o inesperado
e sentado entre conversas a fio
vives à espreita
como se a vida estivesse mesmo ali
à tua espera,
à distância de uma mão
que tens medo de agarrar...

Pois, que na vida não há espaço
para a compaixão!
Mas que outra forma haverá,
senão viver com o bater do coração
bem na garganta
como que a saltar?

Tivesse ele como!

Sabes tanto
e queres sempre mais
que até dói
nessa alma
marcada pela imensidão
que transparece
a cada olhar
inquieto
a cada  simples
gesto
de quem tem muito para entender
sem grandes explicações a dar!

E certo do que és
incerto do que serás
preciso no toque
não te perdes no desafio
do que é estar vivo
entre mortes constantes
e vidas que definham
num mundo insano
que sabes medir
que desejas sentir...

Mesmo que pelo meio,
surja o medo
(inevitável)
nada podes temer
que alma assim
nunca ficará vazia,
só cheia a transbordar
do tanto que vais receber e dar
nem nunca te deixará de guiar
por mais escura e longa que seja
a noite que decerto te irá encontrar!

CFV







quarta-feira, 3 de junho de 2015

Sopros de vida




E a vida começa
num sopro só
por entre sombras de luz,
entrecortadas
de escuridões imensas,
tão imensas que percorres solidões!

Inspiras profundamente
na pressa de chegar
a qualquer lugar
mas se ainda agora começaste
onde queres ir já?

Inalas cheiros
de uma vida breve
que num instante
vira trilho longo
começado num início
sem fim à vista...

Ficas tonta
com tudo o que a vida te apresenta
imensa
variada
inspirada
em olhares carregados de desesperos
que ainda assim esperam
dias melhores...

Paras por entre pensamentos...
Paragens obrigatórias
que o caminho impõe
e é aí que sabes,
que a pressa não te faz chegar
nem antes nem depois
mas no tempo certo
de incertezas
que te fazem ser
que te fazem crer
que és tanto e tão pouco
mas que sabes querer mais
do que o menos que já te é tanto,
numa direção imperfeita que,
certamente, te leva a passear
por ruas e ruelas dessa tua alma
apertada e ansiosa
numa vida tanto estreita
como avenida
que vira oceano...

Nadas pela sobrevivência
lutas por mais uma lufada
num mundo a gritar por mais ar,
evidência
de quem se sente...

E só porque sentes
evidentemente que vais
sufocar
afundar
no meio de ilusões
que nunca viraram concretizações,
entre multidões vazias
que te fazem duvidar
se o teu caminho é mesmo teu
e ao mesmo tempo te fazem acreditar
que estás bem perto do céu
onde tudo acabará, certo,
que mesmo que o breu te apague
o alcance
o mais importante
é que sabes que chegaste ao teu lugar!

É que por mais escuro
por mais longe
por mais medo
sentes
intuis
que para o fim
ainda é demasiado cedo!

E se a vida começa num sopro
numa grande inspiração
expectante
de ar puro e seguro
só tens o tentar
só podes avançar
nem que para isso voltes atrás
afinal...
a vida é feita de recomeços!

CFV

terça-feira, 2 de junho de 2015

Entre o sonho e o pensamento

Uiva o vento
e voa o pensamento!

O olhar vê formas
em nuvens que não param de navegar!

É um instante e tudo muda
numa leveza em bruto,
qual pedaço de algodão,
num céu que esconde a luz
e perde as estrelas
numa luta desigual,
onde o ser não é mais
do que sombra na noite
visível, apenas, quando a luz espreita
por entre lamentos e saudades,
gritos mudos
e pedaços de nadas que viram tudo...
o que havia para ver
já não está lá
voou ao sabor do vento
num lamento que uiva entre o sonho e o pensamento!

CFV

Aperto

Do nada E em tudo Sentes o fim de um tempo E o futuro no presente... O que virá? Quando e como será? Fica ali aquele nó na garganta Um burbu...