poetas da palavra à música
ouço-os a devorá-los
sinto-os com a urgência
de quem ainda espera
quero -os em mim, entranhados
para poder entender
e acalmar o que muito, muito
e sempre, sempre sinto!
O meu corpo chora
por dentro e por fora
contorce-se de dor
daquela que nunca vai passar
porque o futuro é tempo
que, neste país, nunca existiu!
Ficou algures pelo caminho,
amputado,
num tempo ido,
passado imperfeito,
daquele que nunca, nunca acaba,
que era, era sem parar,
mas que nunca chegará a ser...
porque nunca foi
esse passado perfeito
que ali ficou, (exatamente onde tinha que ter ficado)
e nunca se avançou...
e a esperança a existir
não se vê,
não se sente...
mas desespera-se
num país
que insiste em sobreviver
num lusco fusco intenso
de gente escondida,
perdida no meio
de trapaceiros
que falam, falam palavras ao desbarato
como cassete gasta
e ainda assim, acham eles,
com a razão de entendidos
mas que, nada de nada, sabem
e é assim que vão matando, malditos,
a alma imensa de um povo!
Povo que deixa
povo que já esqueceu
povo que já não sente
o valor de um arrepio
daquele que percorre a espinha
porque se luta
porque se acredita
porque,
por mais duro,
por mais incerto
e por mais medo,
não se desiste mas insiste-se
no sonho que comanda a vida!
Ainda é povo
que insiste, sim...
a deixar-se viver
à sombra de quem o quer devorar
e morre aos pedaços
num definhar pardacento
como dia de chuva parado
de trânsito "inquisinado"
de pressa para chegar a casa
e ficar num dormitar quente
de dias sem sentido
só com o sentido do dia seguinte
do mês seguinte
que este já está tão curto...
A fé? Ahhhh, a fé!...
Essa só acorda em jogos de futebol
em subidas de divisão de clubes falidos
em trocas de treinadores/traidores
e ainda assim aguerridos e agarrados
a esperanças vãs de falsa fé!
Vive-se assim neste morrer lento
onde já não há partilha
já não há sonho ou solução
porque deixamos
gente assim
vazia
desfasada
irreal
mandar neste portugal!
CFV

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