sexta-feira, 28 de novembro de 2014

RETROSPETIVA em rajadas de vento

Sabes que é mais um dia merdoso quando chegas ao fim dele e fechas os olhos e tudo o que vês fica escuro e tudo o que ouves é silêncio ziguezagueado pelo vento e tudo o que sentes te deixa enjoada e tudo o que tocas se parte em cacos irreparáveis... uma sinestesia de emoções que te dizem claramente, desde as tuas entranhas, que foi mais um dia que te deixou acabada!
E depois a vida discorre à frente dos teus olhos: pedaços de ti, aqui e ali; perdas, vazio, recomeço, esperança e derrota...invariavelmente sozinha... e sentes que é demasiado para que não tenha sido pelo menos um castigo de algum pecado capital que tenhas cometido e nem te tenhas apercebido de tal! E terá sido pela mera distração ou pelo prazer sentido?... Tentas perceber onde falhaste, onde erraste, em que parte da tua vida te sentiste uma criminosa sem escrúpulos..mas só descobres que tentaste sempre ser, acima de tudo ser, contigo e da mesma forma com os outros..transparente, sem jogos, sem máscaras, sem regras e talvez, também, sem cuidado de saber de antemão se seria o rumo certo, próprio de quem vive sempre com a verdade... Apercebes te que saíste muitas mais vezes vencida, do que vencedora...saíste, sem teres entrado como uma jogadora, uma perdedora de um jogo que nunca soubeste jogar...foste marioneta nas mãos de quem apenas te quiseste entregar...ou assim pensaste!

Sabes que é mais um dia merdoso, quando o sono não chega, os olhos cansados não deixam de te passar imagens doídas de toda uma vida que, nestas madrugadas, fazem sentir que foi perdida...
Perguntas-te: como é que foi possível??? Aquilo? E isto? E até aquele sentimento mais antigo ressalta meio moribundo e ganha vida para te fazer questionar mais uma vez, como é que foi possível???

Não chegas a conclusão alguma, não consegues qualquer justificação para tanta reviravolta numa vida tão pequena e que, lá atrás, um dia, também te pareceu promissora...
Agora, só fica esta revolta de não perceberes como é que é sempre tudo tão repetido, tão igual, repentino e tão perdido... só fica este incoformismo que te faz perder num qualquer rumo, porque só sabes que te lança para a frente...ainda que não saibas se te lança para o meio de uma estrada congestionada...mas vais, porque nem saberias como voltar atrás...és um ser que há muito deixou de ser resgatável... impossível de salvar, o teu poço é  de dia para dia mais escuro, mais fundo e ensurdecedor de tão silencioso...nele, sabes bem que, a tua voz não grita, nem sussurra, nunca pedirá socorro, mesmo que veja olhos ternos e braços apertados...És inalcançável... a vida breve mas vivida não to permite, estás irremediavelmente sozinha... e é assim mais um dia, como todos os outros que sabes que não valeu a luta, não valeu o sorriso nem a tentativa!
Lá fora o vento uiva toda a tua solidão, só ele resistiu e permaneceu contigo... mas não era o vento quem tu querias porque ele só te lança mais nesse emaranhado vivo que ressuscita o passado que julgavas sarado... volta a dor, o vazio e a sensação de que sim, foi mais um dia merdoso!

CFV

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

o mundo em desespero


.https://www.youtube.com/watch?v=WoCSeIY0xdo&list=LLpegFDsUfiqj8XdZmFmaoXg

O mundo pesado
carregado
a flutuar num balão de desespero..
dói só de pensar
desvia-se o coração
porque não queremos sentir mais medo..

Mãos na cabeça
que não pára de gritar
vozes que sucumbem
à prisão em que se transformou este mundo...

Corpo enrolado
no chão duro e sujo
para nem perceber o tempo passar
num lento desesperar
de quem já não pode aguentar...

Olhos fechados
para a cabeça adormecer
sem estar envolta em pensamentos
em catadupa
que trazem todos os desesperos do mundo...

Olhos que já viram demasiado
e só querem esquecer,
acordar do lado de lá
sem este mar vazio de gente
que do lado de cá navega sem sentido
numa viagem perdida...

Os sonhos já não cabem
neste céu que deixou de ser imenso
também ele se deixou aprisionar
e com ele levou
as almas que só lhe queriam tocar
na esperança de alcançar
essa liberdade esquecida
num mundo aprisionado
e transformado
em infinito labirinto!

CFV



segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Desculpem..o raio...

Desculpem lá,
se não consigo disfarçar
se não consigo compactuar
nem fazer parte desta parte que me calhou...
Desculpem lá,
se em mim ainda há voz
que levanta quando ouve o gargalhar
do sorriso hipócrita
da fraqueza que fortalece
a cada obediência cega!
Desculpem lá, se não correspondo
se não me adequo...
é que há medidas muito mal medidas!

Simplesmente,
não nasci para ti, ó mundo doente!
Não queiras de mim o que não sabes dar!

As minhas expectativas vão para além
de gentes fracas e dementes!
O "...não vou por aí..."
já há muito que fez sentido por aqui
"... eu sou a que no mundo anda perdida..."
pois recuso-me a um mundo vazio
recuso vestir o que não me serve
recuso aceitar ser o que os outros querem!
Os meus papéis, sou eu que os escolho
a minha vida é por mim definida
as minhas verdades são por mim construídas
e também serão por mim desmentidas!
Porque em mim não há máscaras!

E já agora, desculpem o raio...que vos parta!
mundo de gente
vendida,
pequenina
sem rumo
sem vontade
sem verdade
sem saber lutar
sem saber dar...
gente que chegará ao fim do caminho
sem ter deixado sequer pegadas...
Gente invisível e, no fim, esquecida!
Desculpem-se a vocês próprios
quando olharem para trás
e perceberem que não existiram!

CFV



domingo, 23 de novembro de 2014

Viver ao acaso

Viver num acaso atrás de acaso
sem saber o que virá a seguir
sem fazer caso
até que a vida (por acaso?) faz sentir...

Não será por acaso
o caos ordenado em que se
terá transformado a minha vida?
Afinal, onde quer ela chegar?
Fará caso disso,
ou faz disso um acaso?

Talvez viva apenas porque sim...

É o pensamento que foge
de mim..
É a distância que pesa
sem ter um fim..
É o malfadado quotidiano
que aperta...
É estar onde se queria longe...
E o longe
que nunca mais se faz perto!...

CFV


quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Trembling hands

"...So throw me a line
Somebody out there help me
I'm on my own
I'm on my own
Throw me a line
I'm afraid that I have come here
To win you again
With trembling hands..."

"- Foi assim que te imaginaste?
Olha para trás!
Encara esse passado que caminha
todos os dias
e a cada dia
que passa
fica mais longe de ti!..."


Encaro, sim
cortante e impotente
porque a resposta, parece-me evidente
e desfaz o pouco que  ainda há em mim!
Os sonhos, esses,
talvez não tenham sido bem sonhados,
talvez, lá atrás, não tivessem sido definidos...
Um presságio?
Um prenúncio?
Chegaria este dia em que veria
o mapa da minha vida,
quase vazio de lugares comuns?...

Vejo e não sei onde errei,
mas talvez,
direções tomadas
para viagens erradas?...

E agora?
Como preencher os vazios
e redesenhar a alma?
Seria este o tempo
para ter calma?
Adormecer
aconchegada
num sonho descansado?

À minha volta está tudo parado
o mar não geme
a montanha mantém-se
imponente e imóvel
e as estrelas não chegam para
ver o caminho em frente...

Só ficou este frio
que me gela corpo e alma
cortante,
lâminas invisíveis
que me alcançam
imprevisíveis
sem lhes poder fugir...
Vim ter
ao único lugar no mapa
que não me preencheria
e agora nem sei para onde partir!

CFV

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Com dedicatória

Aos meus terapeutas
psicólogo e psiquiatra
que numa tentativa vã
expurgam os meus males
dum quotidiano pesado
numa alma quebrada....

Salvam-me por mais um dia
numa musicalidade indefinida
que me entra ouvidos adentro
e remexe comigo
numa escrita sentida...

Salvam-me
numa tentativa repetida
são a minha única companhia
em noites e dias
perdida...

Ainda assim,
mesmo em vão
é a música que me faz bater o coração
e a escrita que me faz acreditar
que ainda estou viva
e que me posso encontrar!



CFV









domingo, 16 de novembro de 2014

Promessa de um tempo ausente

"Ohhh, the reason I hold on
Ohhh, ‘cause I need this hole gone
Funny you're the broken one but I'm the only one who needed saving
‘Cause when you never see the light, it's hard to know which one of us is caving...

.. i want you to stay..."

Fecho os olhos
ao som do mar que se bate e se enrola
ao longe
numa distância tão
tangível quanto impossível
e no meio esta indefinição
entre mim e ti
entre mim e eu
numa perseguição
que me derruba
me tira
e me devolve 
apenas noites de breu...

Fecho os olhos
ao sabor da música  repetida
que teimosamente
te procura e nos acha
entre versos de desejo
e rimas que rimam 
os nosso sorrisos
numa vontade maior 
que orquestras
e trazem notas 
que fazem o sentido 
cheio de sentidos...
só que agora perdidos...
e promessas cheias
só que agora vazias...


Neste limbo
esqueci me de mim 
porque vivo em ti
nessa distância doente
que me tolhe cada momento
e me obriga
a viver ausente
sempre neste silêncio
aterrador 
e demasiado presente
que não deixa morrer
esta maldita dor...

CFV

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Distante (mente) perto

Sabias que nem toda a distância do mundo
me afasta de ti?
Só morre em mim a pouca luz que me guia...
Ficas sempre, figura imóvel, de sorriso no olhar
de braços cruzados, como que a espreitar...
Sabias que já fechei os olhos, vezes sem conta, 
desde que entraste na minha vida
na esperança de não te precisar
e decidida,
digo de mim para mim, com muita força
que não preciso de ti..., não preciso de ti... não preciso de ti!
Os dias correm, sem parar
o coração bate sem tempo para pensar
e a cabeça ocupada, permanece quieta...
Parece ter dado certo...
penso sem me prolongar no tempo
que talvez já sejas memória,
transformada numa bela história...

E a distância mantém-se, 
mas inesperadamente
a tua figura em forma de sorriso assalta-me...

Mentira, tudo mentira...
eu preciso de ti
diz me cada músculo tenso do meu corpo
materializado no meu olhar
preso ao teu,
a inundar-se e a enrolar-se a cada lágrima!

E é sempre assim
eu já devia saber...
Esfumas-te, mas nunca desapareces,
e voltas forte na minha cabeça
o coração acelera 
e não percebe porque de repente estás ali
como se nunca tivesses saído...
E é sempre assim
eu já devia saber...
E mais uma vez
aproximam-se dias 
taciturnos
fora do que sou
permanentemente em ti...

E como sempre
quando surges assim
subitamente
em forma de pensamento
de alguma forma
chegas até mim...

Estranho prenúncio repetido!

As palavras que me deixas,
vagas
cortantes
acusadoras
deixam- me mais um nó
a borbulhar do estômago ao cérebro
e engulo em seco
mas não passa
porque há mais um nó
que ficou preso na garganta...
Só o coração consegue discernir
porque ainda o fazes sentir...
vira pedra porque tem de te olhar
desta forma tão vazia e injusta
quando já fomos cheios
de vontade
esperança e



quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Estilhaço

Estilhaço
em câmara lenta
demorada queda
lento reerguer
amparada por uma rede
de incerteza...
teia frágil
que a cada mergulho se rompe
num gemido
que se solta ainda antes de acontecer...
vai voltar a doer...

Maldito movimento repetido
cada vez mais conhecido,
quando irá cessar?

Fugi sempre de mim...
Em vão...

Aqui estou eu
inteira
desfeita
sou pedaços
mil
vezes mil
e assim dividida,
estou sedenta
sou urgência
preciso de me encontrar!

Sou partida e regressada
e acabo invariavelmente
prostrada
sem estrada
sem fim,
encontro-me
invariavelmente
em mil almas
dispersas e indefinidas,
habito-as e elas vivem por mim
numa vida arrastada e perdida
espalhada ao sabor do vento
e ainda assim aprisionada
a cada palavra errada
a cada rua escura
a cada onda que se desfaz
em espuma
que é tão só
a minha existência
fugidia, cinzenta e no fim...bruma!

Vaivém
imaginário
que me devolve
sempre ao mesmo
ponto
partida
sem saída...
e a cada momento
parece passar uma vida
onde só cresceu
esta emergência longínqua
esta urgência imprecisa
que me constrói e destrói
neste movimento repetido
entranhado de tão conhecido
como que a perpetuar
este ser desfeito
que só se quer reencontrar
reerguer
sem que volte a doer!


CFV




sábado, 8 de novembro de 2014

A falta

Sentir falta sem (te) conhecer
Querer sem (te) saber
Sonhar sem existir(es)
Pensar (te) sem rosto
Amar (te) sem nome
Sentir (te) ao longe
como se fosses 
lado a lado
Precisar(te)
impreciso
toque 
sem toque
dedos 
entrelaçados  
vazios
espaços
sem risos
sem olhares
cruzados...



CFV

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

IRONIAS

Brilhas sempre mais alto
por entre sombras
por entre noites
e num céu imenso
sozinha
perdida
impaciente
sem parar
à espera de encontrar
um mar para sempre
que te envolva
numa onda sentida
que te devolva
mais que espuma
enrolada
mais que breves salpicos
molhados...
escolhes o presente
que seja apenas surpreendente
sem embrulhos e poucos laços ...

Enquanto segues imponente
ao encontro desse mar
vais- te dizendo e convencendo
que será mais que um barulho
ao longe...
Aproximas-te..
na urgência de ficar
na vontade de abraçar
não sabes o tempo que te resta
só que desejas partir...


Ironias dessa vida
que te acolheu
que te escolheu!

Brilhas tímida
e ainda assim
te olham olhos arregalados
encandeados
com ganas de te alcançar...
Foges sem saber
e pairas sem entender
esses olhares
essas vontades
dos outros
a tua é a de seguir
nua e crua
por entre o escuro
que será sempre quem te guia...

Por mais que procures
jamais encontrarás o dia
a luz cega-te
o brilho suportado
só o teu
e ainda assim vais
na esperança de mais
mas tudo o que encontras é o breu..
És alma notívaga...
sofres pela distância
nunca alcançada
suspiras cansada
numa viagem
que será sempre inacabada....

As voltas para ti guardadas
serão sempre
só por ti sonhadas
porque em ti
encerras todo o mundo
que anseias partilhar
porque é tanto
porque é demais
o que te desenha a alma
próprio de quem vê constante
lá do alto...
Mas ainda que não saibas
nasceste para nos iluminar
e fazer de nós
um pouco menos sós!

Fado pesado!

CFV



Aperto

Do nada E em tudo Sentes o fim de um tempo E o futuro no presente... O que virá? Quando e como será? Fica ali aquele nó na garganta Um burbu...