quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Mortalha


Até a inspiração se perdeu
no meio deste nada
que impuseram como meu...

Fiquei nesta noite
fria e interminável
que me suga
lentamente
esvai-se, gota a gota,
a energia
e mantém- se, instante a instante,
esta letargia,
presa... imóvel...
à espera que passe
à espera de acordar deste pesadelo
que me assalta de noite e de dia!

Às perguntas inquisidoras
arranjei respostas perturbadoras...
não quero e não posso
ser o que não sinto
e sinto que quero
amaldiçoar esta sorte que me calhou!

O medo, para mim,
morreu há muito tempo
quando o que era meu
alguém mo tirou!

Deixei o medo
e ganhei a coragem
lutei por mais
e perdi...

Resta-me, para já,
o aqui
o amaldiçoar
e o praguejar
quem ainda tem medo
quem nunca deixou de estar preso...

Ficou-me, para muitos,
esta pouca vergonha,
de recusar
o que nunca me servirá
e de enfrentar
o destino,
sempre que me parecer
pequenino!

Resta-me ainda esperar
que tudo termine
para poder acordar
num outro, qualquer, lugar!

Desta noite dura
sei que me ficará
e que,
nada nem ninguém,
me roubará
esta liberdade minha
que me constrói
por dentro e por fora
que é coração
e muralha
sangue a correr
e pele que me envolve
sentido de cada dia
até ao último
para aí ser também
a minha mortalha!

CFV




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